Um
nome. Um legado. Um vazio emblemático na história.
Júlia Lopes, nasceu em 24 de
setembro de 1862, e passou quase toda a sua infância na cidade natal. Mudou-se
com sua família para Campinas aos 7 anos, onde permaneceu até os 23 anos.
Foi uma importante escritora
brasileira, tendo contribuído com mais de 40 obras para o acervo literário do
país, entre elas: romances, contos, narrativas, literatura infantil, crônicas e
artigos. Júlia também foi uma das primeiras mulheres a escrever para a
imprensa, contribuindo com vários periódicos da época como artigos, jornais e
revistas.
Seu primeiro livro foi
publicado em 1886, em coautoria com sua irmã Adelina, com o título de “Contos
Infantis”, e sua última obra data de um mês após seu falecimento em 1934, com o
título de “Pássaro Tonto”.
Começou a escrever quando
ainda era uma menina, mas, devido ao medo de ser repreendida, fez de tudo para
esconder seu gosto pela arte, e tudo aquilo que escrevia. Mas, felizmente, seu
segredo não demorou muito a ser revelado, pois sua irmã Adelina (com quem viria
a escrever um livro mais tarde) o descobriu e contou a seu pai, o português
Valentim Magalhães.
Ao contrário do que se
esperava, Valentim ficou imensamente feliz ao descobrir as habilidades da
filha, e a inseriu no circuito literário de Campinas, do qual era cooperador e
organizador. E, graças a isso, Júlia teve a sua primeira oportunidade de
mostrar seu talento, ao escrever um conto sobre o espetáculo da atriz Gemma
Cuniberti, italiana que fazia teatro infantil no Brasil, que foi publicado em
1881 na Gazeta de Campinas.
A partir de então, contribuiu
assiduamente com textos para a imprensa da época e, em 1885, quando decide
passar uma temporada no Rio de Janeiro, Júlia é convidada por Olavo Bilac para
participar do periódico “A Semana”, que era patrocinado por Valentim Magalhães
e Filinto de Almeida (com quem se casaria 2 anos depois em Lisboa).
Após o seu casamento com
Filinto, que era jornalista e poeta, mudou-se para o Rio de Janeiro e, no início
do século 20, estabeleceu-se em Santa Tereza, em uma chácara que abrigava o
salão verde ou casa dos artistas, como era conhecida por ser um importante
ponto de encontro dos intelectuais da época.
Júlia foi um exemplo de mãe,
anfitriã, esposa e profissional. Vivia constantemente buscando o equilíbrio
entre sua carreira e seus papéis familiares, de maneira que não parecesse
soberba, ambiciosa e presunçosa aos olhos da sociedade.
Apesar dessa aparente
dificuldade, Júlia continuou se destacando e ganhou a posição de escritora mais
publicada na Primeira República com aproximadamente 30 obras.
Embora não fosse sua intenção,
o seu sucesso impulsionou a quebra do ciclo de produção literária
exclusivamente masculino. Mas, até o momento, tal fato não havia sido motivo de
problemas para ela. Até aquele momento.
Infelizmente, a ilustre
carreira de Júlia Lopes e a sua notável contribuição para história da
literatura brasileira não foram suficientes para impedir que ela sofresse uma
das maiores injustiças da época: a privação de uma das cadeiras de fundadora da
Academia Brasileira de Letras.
Tanto Júlia, quanto seu marido
Filinto estiveram engajados no projeto que viria a se tornar a ABL, entretanto,
em 3 de dezembro de 1896, quando Lúcio de Mendonça (propulsor do projeto)
sugeriu em um artigo à Folha de S. Paulo, que Júlia ocupasse uma das cadeiras
destinadas aos fundadores da agremiação, só recebeu três indicações de apoio
vindas de Valentim Magalhães, José Veríssimo e Filinto.
O argumento usado para
justificar a pouca relevância atribuída ao pedido de Lúcio, foi o de que
segundo o regulamento da Academia de Letras Francesa (que serviu de inspiração
para a criação do prêmio brasileiro), apenas homens de letras poderiam
ingressar.
E, como forma de amenizar o
peso do preconceito e mostrar alguma consideração pela a sugestão feita por
Lúcio de Mendonça, a cadeira que seria de Júlia foi, então, dada a seu marido
Filinto.
E, durante mais de 80 anos,
outras mulheres brilhantes, como Júlia foram impedidas ou sequer cogitadas de
assumirem uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, pois, só em 1977, Raquel
de Queiroz viria a ocupar a cadeira de número 5 da instituição.
Parte
das obras de Júlia
ESCOLARES
Histórias da Nossa Terra
Contos Infantis (com sua irmã
Adelina Lopes)
A Árvore (com seu filho Afonso
Lopes de Almeida)
ROMANCES
A Família Medeiros
Memórias de Marta
A Viúva Simões
A Falência
A Intrusa
A Casa Verde (com seu marido
Filinto de Almeida)
Pássaro Tonto
O Funil do Diabo
TEATRO
A Herança (um ato)
Nos Jardins de Saul (um ato)
Doidos de Amor (um ato)
CONTOS
E NOVELAS
Traços e Iluminuras
Ânsia Eterna
Era uma vez...
A Isca (quatro novelas)
DIVERSOS
Livro das Noivas
Livro das Donas e Donzelas
Correio da Roça
Jardim Florido
Eles e Elas
Maternidade (obra pacifista)
Brasil (conferência)
Homenagens
Em 2017, em comemoração aos
120 anos de sua fundação, a ABL homenageou Júlia Lopes, em uma conferência
criada por Ana Maria Machado (sexta ocupante da cadeira de número 1 da
instituição). Nomeada de cadeira 41, foi criada a fim de simbolizar um lugar de
destaque para aqueles que já se foram e, por algum motivo, não puderam ocupar
uma das 40 cadeiras da Academia.
Outra importante ação foi
realizada em março deste mesmo ano em prol de tornar conhecida a vida e obra de
Júlia: o lançamento do livro A (in)visibilidade de um legado – Seleta de textos
dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida. A autora Michele Asmar
Fanini, pela Editora Intermeios com coedição da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), escreveu e publicou esta obra que foi o
resultado de uma pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros
(IEB) da USP. Vale a pena conferir! Clique e acesse: